quinta-feira, 25 de julho de 2013

Superfinal: O futuro é agora



Jann Mardenborough não é o piloto mais rápido do mundo, não é o piloto mais jovem e também não é o mais rico. Entretanto, o garoto nascido no dia 9 de setembro de 1991 e que mora na cidade de Cardiff, em Gales, é sem dúvida o que mais gera interesse entre os pilotos do mundo inteiro que competem nas categorias de base. 

Aos 21 anos de idade, Jann estreou neste ano na F3 Europeia, competindo pela equipe Carlin, depois de disputar o campeonato britânico de GT no ano passado, quando brigou o título até as etapas finais. Apesar do bom desempenho, o que o torna tão especial é a maneira como ele foi parar no esporte a motor. Ao contrário dos colegas, que geralmente iniciaram no kart, o garoto foi descoberto pela Nissan enquanto jogava videogame. 

Tudo começou em 2011, quando Mardenborough decidiu participar do programa GT Academy, desenvolvido em uma parceria entre a Nissan e a Sony, criadora do jogo de videogame ‘Gran Turismo’, de Playstation 3, para descobrir novos pilotos. Na primeira fase desse evento, ainda realizada no mundo virtual, o britânico competiu contra garotos do mundo todo em uma corrida contra o relógio. Cada um em sua casa, quem conseguisse marcar os melhores tempos em uma determinada pista dentro do jogo avançaria à fase final da competição. 

Só que a história de Jann com os videogames não começou aí. “Meu primeiro game foi o ‘Gran Turismo’ original do Playstation 1. Meus pais tinha alguns amigos do outro lado da rua, e eles tinham o jogo, então eu ia lá para jogar. Eu joguei tanto que eles acabaram me dando o Playstation!”, conta o piloto à Revista WARM UP. “Eu também tinha ‘Collin McRae Rally’ para o computador”, acrescenta. 



“Meus amigos foram viajar para ganhar experiência
e eu fiquei em casa jogando videogame, mas foi
a minha vida que mudou completamente” 




Só que ser um apaixonado por jogos de corrida não tornava Jann um bom piloto, e a Nissan sabia disso. Para comprovar o talento dos garotos selecionados, a fabricante pegou os donos dos 20 melhores tempos no videogame e 0e5426 a Silverstone, na Inglaterra, para testes físicos e práticos, dentro da pista. Quem levasse a melhor ganharia como prêmio poder disputar as 24 Horas de Dubai pela equipe de fábrica da montadora. 

E isso era um problema para Mardenborough, que praticamente não tinha experiência com carros de verdade. “Eu sequer tinha guiado um carro de rua até essa época”, revela o garoto. O contato com o automobilismo era ainda menor. O britânico já tinha andado de kart algumas vezes, mas apenas por diversão e, como a família não tinha condições para pagar, jamais considerou seguir carreira no esporte a motor. 

Mas tudo mudou em Silverstone. Embora o britânico não tenha conquistado os melhores resultados individuais na grande decisão, a Nissan decidiu selecioná-lo como vencedor do GT Academy de 2011. Assim, ele se juntou ao espanhol Lucas Ordoñez, ao francês Jordan Tresson e ao americano Bryan Heitkotter, vitoriosos de outras edições do concurso. Juntos, como parte da premiação, eles terminaram as 24 Horas de Dubai de 2012 em terceiro lugar na divisão GT4. 

“Eu queria ter entrado no evento de 2010, mas ainda estava na escola preparatória e realmente não tinha tempo. Em 2011, tive um ano sabático, e a maioria dos meus amigos viajou para lugares como a Austrália”, conta o piloto. “É engraçado como as coisas mudaram. Eles foram viajar para ganhar experiência e eu fiquei em casa jogando videogame, mas foi a minha vida que mudou completamente”, acrescenta. A experiência de Mardenborough não ficou restrita apenas a Dubai. Enquanto os amigos conheciam as praias australianas, o garoto foi escalado pela Nissan para participar da Blancpain Endurance Series, em 2012, onde conheceu Monza, Paul Ricard e Spa-Francorchamps. 


O tour mundial não parou por aí. Jann ainda foi chamado para competir no campeonato britânico de GT ao lado do veterano Alex Buncombe. E juntos eles fizeram história. Mesmo sem jamais ter disputado um campeonato de forma integral, o vencedor da GT Academy conquistou uma vitória, correndo em Brands Hatch, e lutou pelo título até a etapa final. 

Embora tenha terminado com a sexta colocação na tabela, o piloto literalmente precisou competir contra tudo e contra todos. Ninguém esperava que o integrante do programa da Nissan fosse ter um bom desempenho, mas ele rapidamente se colocou no mesmo ritmo de Buncombe e dos outros competidores, o que prejudicou o equilíbrio do certame. 

Assim como acontece aqui no Brasil, o GT Inglês é disputado em duplas, com um piloto profissional fazendo parceria com um gentleman driver. Por não ter experiência, Mardenborough foi colocado como o integrante amador da dupla, o que começou a ser injusto com as demais parcerias. Afinal, ele competia entre os amadores, mas tinha habilidade de profissional. Para resolver a situação, a organização do torneio puniu a dupla da Nissan seguidamente, mas mesmo assim eles permaneceram na briga até o final. 

Para 2013, a organização do campeonato tomou uma decisão drástica, proibindo a participação dos pilotos da GT Academy, pois não havia meios de classificá-los como profissional ou amador, o que colocaria em risco o equilíbrio do certame. 

À WUp, Jann diz entender a decisão do certame, mas acha injusto que seus colegas não tenham podido correr na atual temporada. “Todas as histórias têm dois lados. Eles precisavam proteger a divisão Pro-Am, mas acho que foi uma decisão injusta. Eu comecei neste campeonato com zero de experiência”, afirma. 

Alheio às disputas políticas, o piloto começou a ser assediado pelas equipes. A progressão natural dentro da Nissan seria disputar o Mundial de Endurance (WEC) com alguma escuderia apoiada pela montadora, além de seguir andando em disputas de GT. Para ganhar experiência em carros com alto downforce, como os protótipos da categoria LMP2, Mardenborough fechou um acordo com a equipe Carlin para testar de F3 durante a pré-temporada de 2013.

Jann disputou a Toyota Series, na Nova Zelândia,
e foi competitivo mesmo correndo contra garotos que já estavam nos monopostos há anos

Só que a megacampeã da F3 Inglesa realmente ficou interessada no piloto. Assim, o time e a Nissan entraram em acordo e o liberaram para disputar a F3 Europeia neste ano. Afinal, essa era uma situação boa para todos, já que o garoto teria a chance de aprender um pouco mais antes de servir à montadora nas corridas de longa duração. 

Para acelerar a adaptação, Jann até chegou a disputar a Toyota Series, na Nova Zelândia, no início do ano, quando foi competitivo mesmo correndo contra garotos que já estavam nos monopostos há anos. 

Consequentemente, a agenda do garoto começou a crescer. Além da F3 Europeia, ele também tomou parte da F3 Inglesa e acabou escalado pela Nissan para disputar as 24 Horas de Le Mans pela equipe Greaves, ao lado de Ordoñez e de Michael Krumm, que também tem contrato com a fabricante asiática. O trio terminou a prova na terceira colocação na divisão LMP2, e Mardenborough foi um dos grandes destaques da corrida ao guiar por mais de 10h na primeira participação na competição. 

Para completar o calendário, o garoto ainda foi chamado pela Nissan para integrar o plantel da escuderia nas 24 Horas de Spa-Francorchamps, disputada com carros GT, no fim do mês de julho, ao lado de outros vencedores da GT Academy. No anúncio oficial, o chefe de automobilismo da Nissan, Darren Cox, afirmou que o talento de Mardenborough é parecido com o de Jim Clark, bicampeão da F1 e vencedor das 500 Milhas de Indianápolis. 

“Nós não queremos tolher nossos pilotos. Jann pode acabar correndo nos monopostos ou seguir no caminho do endurance, seja em protótipos, seja em carros GT. É como nos velhos tempos, quando Jim Clark saia de uma corrida da F2 direto para andar no carro de turismo da Lotus”, afirmou o dirigente. 

E o futuro do piloto ainda é um mistério. Ainda não está certo se a Nissan vai permiti-lo continuar na F3 e colocar o aprendizado deste ano à prova na luta pelo título de 2014. “Eu ainda não sei a resposta”, diz o britânico. “Nós vamos ver aonde este ano vai nos levar. Independentemente do que o futuro me reserva com a Nissan, já estou ansioso para ele”. 

Se o destino de Mardenborough ainda é incerto, a mesma interrogação também paira sobre os próximos passos do esporte a motor no geral. Em apenas três edições da GT Academy, a Nissan conseguiu filtrar um piloto de ponta, que nada deve em relação a aqueles que começaram no kartismo. Por isso, nada mais natural que o automobilismo virtual se torne um local em que realmente equipes e montadoras possam usar para descobrir novos talentos. 

Isso, no entanto, não significa que o kartismo esteja ameaçado. Para Jann, é apenas mais uma oportunidade que se abre para quem quer seguir carreira correndo de carro. “Acho que agora as pessoas sabem que há um novo caminho para se tornar piloto. E essa é uma maneira muito justa para avaliar o talento. Se você olhar o kartismo, por exemplo, as crianças com mais dinheiro levam vantagem, mas no videogame a situação é totalmente diferente. Eu não acho que isso ameaça os karts, apenas abre uma nova porta”, avalia. 

Enquanto ainda não define o futuro, Mardenborough vai aproveitando as chances que aparece na carreira. Quanto aos videogames, o piloto diz que ainda joga quando encontra com os amigos, “mas agora é um hobby”. Para mudar de rotina, o garoto deixou os games de corrida de lado e agora se diverte com os jogos de tiro. W

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